terça-feira, 15 de junho de 2010

A Reencarnação do Older Veemster e o seu Cavalo

o chefe do departamento de construção civil
sabe pouco de edificações turísticas, mas tem em
bom contemplação o que veste. e o que ele ensina,
sobre vigas, é que não podes perder o que nunca tiveste.

as coisas pequenas e doces estam embevidas nas apostas,
e o cheiro nauseabundo que circula o ar vem das fossas,
que o ministério da cultura inaugurou por um papel sobre as costas
do obeso circulador de oxigénio que vende comboios.

Os autocarros, eles têm todos listas azuis, e os bancos,
todos têm tapetes de arroios, para tapar fluídos e consternações
de toda a gente que é regular. Mas não é pelos odores a passado
que te fazem temer entrar, não, é porque tens medo de vê-la passar.

a bandeira da bomba de gasolina atiça-se ao vento
enquanto o condutor da 500 cc se queixa do mau tempo,
e o velho mendigo engole um cêntimo, e reza por uma
transfiguração imediata. do lado desta irrompe a frota dourada
de Mercedes com o pequeno marcador de prata, que demonstra
algo de ostentação pura e pouco barata, e uma consternação
fraca e irremediavelmente dura.

tu colaste a tua fronha ao vidro que ia a passar
sobre a casa da velha D.Dores e pelo bazar, e gritaste quando
viste todas aquelas cores, que inferiste ser por estar mocado,
mas a única coisa que tu querias era voltar a ver flores.

o mar, ele vem salgado, e não parece contente,
nem algo descontentado, mas puro, e veemente
como uma passagem indecente de tempo,
ou um excerto irrelevante de fado.

do outro lado da praça ouvia-se uma doce voz,
morta, de quem quer espaço, e tu ardeste de novo feroz,
pois, afinal, era como ela, uma mulher, e tu és como sempre
foste, um embaraço.

a tribuna mercantil da secção oeste reina ardil mas escondida,
como uma vítima de incesto ou um ser extraterrestre,
ou, mais latamente, um indíviduo padecente de sida,
ou ainda um monstro feio e seriamente lixado, que,
muito ironicamente, controla qualquer um e todos os aspectos
de todas e qualquer uma vida.

e aquele espaço vazio junto à floresta, onde toda a gente
parou para tomar a merenda ou confortar uma sesta,
caiu-te como uma advocação do diabo, pois, invariavelmente,
é para ela que jaz a tua mente quando tens de pensar um bocado.

Paulo Oliveira

sábado, 12 de junho de 2010

65 Feitiços

Vão dois tipos na rua
e tu andas lá núa,
com dois cigarros na boca
com o dobro da velocidade
de uma mota oca a dar a
volta à cidade. oh, e andas
a cheirar o cabelo a toda
a gente que anda a mendigar,
e a levantar o pêlo a toda
a gente que ainda tem pêlos
para eriçar, e a cantar versos,
e a vender garrafas de ar,
e a roubar terços a toda a gente
que ainda tem fé, e a pisar
toda a gente que ainda tem um
pé para pisar.

Os camiões roncam com as suas
cilindradas, e as modelos andam
todas mocadas pela estrada,
e o agente tem um espada,
que ele confunde com uma rocha
foliada, entre as coisas que aqui
estão, e o que não há, que é nada.
O polícia deixou cair o chapéu,
mas não era um chapéu, nada
tinha a ver com um chapéu,
era um véu, e ele era uma polícia,
na planície, " sissie ", que afinal
é uma serra. PÁRA DE TIRAR`
O CÉU DA TERRA.

Paulo Oliveira

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Igreja do Carmo

Na Igreja do Carmo o sino dos sinais caiu,
aparentemente porque um rato roeu o cabo.
Ao par que alguns dizem que é obra do diabo
outros defendem uma fatuidade do destino.

Os missionários confessam os violadores,
em nome do Senhor, e as velas com as suas
cores claras estão agora brutalmente douradas.
A porta de entrada, cheira a verniz e o sacristão
demente coloca intuitivamente na perdiz assada
pitadas de salsa e açafrão.

O vento anda a roçar nas cortinas de seda. O padre
Serafim queixa-se que vem da alameda que corta a
estrada junto ao portão. Tudo isto ele diz, quando
prevê que vem o fim, e tudo indica que foi ele que quis
que ele viesse, porque é assim que ele o tece. Ele termina
todas suas homilías com típico " rezem por mim ",
e um sorriso atípico, que olha todas as
indeterminações da vida, e as assassina.

Paulo Oliveira

segunda-feira, 7 de junho de 2010

És Uma Hipócrita

é preciso ousadia para quereres falar comigo;
enquanto eu pensava que era teu amigo tu
nem sequer escondias o que eu contive para
não andar sozinho.

eu sei a razão de teres fingido por tanto tempo;
tu só querias tocar em tudo o que era meu
e por um único gélido momento
seres exactamente como eu.

quem te diz que eu tenho de te dizer olá ?
se estás insatisfeita com a tua posição social
vai ao ministério do ego na tua cabeça
para mudar essa peça que é desfuncional.

andas por Lisboa a dizer que nós somos iguais;
pois estavas melhor a tomar uma sesta, porque,
apesar de sermos ambos bestiais,
só tu é que herdas o adjectivo de besta.

não percebo porque clamas que sabes tanto;
se logo que chegas à entrada,
quando alguém te questiona tu largas um vago pranto,
e acabas a noite calada.

tu sabes que nunca me hás-de tocar sequer no pé;
porque mesmo que por alguma razão,
digas que já perdeste a tua fé,
a verdade é que te posso dizer na hora
que nunca tiveste nenhuma.

estava destinado a acabar assim;
porque apesar de eu ter acreditado
tão fielmente em ti,
pelo que eu vi, tu nunca acreditaste em mim.




Paulo Oliveira