quarta-feira, 9 de junho de 2010

Igreja do Carmo

Na Igreja do Carmo o sino dos sinais caiu,
aparentemente porque um rato roeu o cabo.
Ao par que alguns dizem que é obra do diabo
outros defendem uma fatuidade do destino.

Os missionários confessam os violadores,
em nome do Senhor, e as velas com as suas
cores claras estão agora brutalmente douradas.
A porta de entrada, cheira a verniz e o sacristão
demente coloca intuitivamente na perdiz assada
pitadas de salsa e açafrão.

O vento anda a roçar nas cortinas de seda. O padre
Serafim queixa-se que vem da alameda que corta a
estrada junto ao portão. Tudo isto ele diz, quando
prevê que vem o fim, e tudo indica que foi ele que quis
que ele viesse, porque é assim que ele o tece. Ele termina
todas suas homilías com típico " rezem por mim ",
e um sorriso atípico, que olha todas as
indeterminações da vida, e as assassina.

Paulo Oliveira

1 comentário:

  1. Como é que se assassina alguém com um sorriso e um olhar, Paulo?
    (Vês, as pessoas afastam-se.)

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