sábado, 15 de maio de 2010

O Último Homem Irritado - I

A conversa jazia morta entre nós. Fitávamos languidamente o céu mastigando o fantasma desta, um silêncio absurdo, enquanto nos tornávamos ao sol em fatalidade. O Correia desenvolvera o hábito de trincar os seus cigarros.
" O meu pai era um homem. " - tornou-se-me Correia, como que pedindo um fósforo - " Era, pois já nos deixou há oito anos, tristemente. "
Logicamente, nada disse, respeitando o silêncio que me caíra bem, como uma reflexão.
" E sabes, jovem ? Ensinou-me muitas coisas. Tanto que te digo, de homem que sou, para futuro homem que serás, certamente, com a benção de Nossa Senhora, e com todo o respeito e educação, que nas religiões, políticas e instituições, não há lugar para homens.. "
Andava à procura de um isqueiro no bolso do blazer, no momento em que parara. Eu dormia sobre a minha comiseração, noturna e tátil, e estava a medi-lo, a olhá-lo com os meus olhos e a ouvi-lo com os meus ouvidos, certo que o que tocava estava realmente ali, e que tudo era, não sagrado, mas anti-sagrado, mundano, tão pobre e irrefutavelmente errado como dois homens discutindo filosofia sobre uma ponte.
Tudo carecia de uma explicação : " Não, não há realmente. "

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