sábado, 20 de março de 2010

É Preciso Muito Humor, É Preciso Muito Tempo

os dois homens que entraram pelo Cais
vinham a espirrar e a remoer sobre o empresário
das minas dos sais que eles iam escavar
até alguém se lembrar de tomar a conclusão mais
drásdica de os embebedar.

e eu olhava-os com os olhos vidrados
e os meus cabelos abanavam-se e estavam cansados
do vento e da brisa do mar.
alguém me empurrou e se desculpou
mas a verdade é que eu estava ocupado
a engolir e a divagar, e esses mineiros
fitaram e engargaram os amendoins
para a pistola de dois canos que eu tinha na mão.

o cano abriu-se e não tinha balas
nem lanças nem setas,
nem facas nem picaretas,
enquanto eu entoava as escalas
de blues que eu conhecia e outro copo de Golden Strike
viria nas mãos dos empregados.

outro me empurrou,
" hey, cuidado, rapaz "
mas nem o matar é coisa
que me satisfaz. "rapaz,
sê audaz, e desaparece,
isto é uma coisa estatal,
aqui ninguém quer começar
a terceira
guerra mundial"

era certo que os mineiros voltariam a falar
de algo que os voltasse a incomodar,
e os professores de universidades bêbedos
iriam dizer que a vida é um remédio
os filósofos da Avenida dos Aliados iam
encontrar qualquer razão para te dizer
que pensar numa mulher é assédio
e os barcos iriam continuar a passar.

a minha camisa dizia algo nas costas
que passava por " sou transparente "
e na minha testa estava escrito que eu
era invisível, porque a mármore do bar
tinha a mesma cor de pele que eu e a senhora
dos shots ainda não me havia servido,não havia
incómodo em me empurrar. o ponto alto da noite
seria que eu poderia dizer algo indecente
e podia incomodar toda a gente a toda a hora.

o advogado da Segunda Rua para o Monte
subiu à mesa gritou pela demora
e aplepsou-se junto à fonte. eu pergunto-me
se alguém me enterrava,
se eu morresse no topo do monte.

Paulo Oliveira

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