terça-feira, 30 de março de 2010

Não te vi

a vendedora de fruta colocou o seu carro debaixo da tua varanda
e as heras caiam-lhe sobre a face. nem que eu tentasse porventura
alimentar-me, viria de novo essa inútil esperança.

pedi que dissessem quando te vissem na capital, algo sobre mim
que me fizesse parecer forte. como podia saber que te olhar me fazia
mal, enquanto tu passeavas pelo nosso norte ?

sabes amor, quando o teu autocarro saiu, eu não o persegui, porque
assim não entendi que era suposto, enquanto o condutor no seu posto
me olhou com desprezo, e eu senti-me preso em algo que não era real.
tinha o meu cigarro aceso na mão, e o fumo deste que eu acendi,
ondeou-se e eu perdi toda a minha visão. mas acredita, amor, que todos
os bafos que fui dando e chorando deram-se ao coração.

o vendedor de alibis estava encostado ao poste de alta tensão,
com um nervo inédito na sua mão. eu passei, entoando um verso,
sobre como matei o meu único irmão, e ele esperava alguma tentativa
de expiação, mas eu não tenho qualquer motivo, senão este de sofrer
prostrado na cama da prisão. ele ignorou-me, olhando o chão com rancor,
e adivinhava nos meus olhos, imaginando subliminarmente, que todos os
homens tornam a cabeça ao chão quando pensam em amor.

eu não tenho motivo para passar nestas ruas, na tua varanda de ferro,
pelo teu colar de diamantes ou pelos teus olhos da cor do ouro. eu sei
que se penso em ti estouro, por isso, em todas as promessas que eu não
desmenti, se passares por mim, finge que eu nunca te vi.

Paulo Oliveira

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