terça-feira, 6 de abril de 2010

Desejo

a minha vizinha toca a trompeta demasiado alto
e o homem que lhe traz o leite ronca e ouço um
salto do mágico que engole espadas, sempre
que se dá à tentação, e alguém me diz que é má
vizinhança enquanto eu só vejo inspiração.

eu não caminho, mas o chão mexe-se de um lado
para o outro ao sabor da minha intenção, e tenho
um palhaço que mexe cordéis para eu sorrir, e um
lobo que cerra os dentes sempre que quero abrir
a boca.

o meu padre disse-me que teme que sofra de solidão
mas ele sabe que é vê-la na cara dos meus entes queridos
que me parte o coração. talvez se vendesse todas
as árvores do pátio, encontrasse todos os meus ajudantes
que andam perdidos na escuridão. e eu podia ir caminhar
sobre esses tordos mortos, e tropeçar, mas será que tinha
onde cair ?

Paulo Oliveira

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