sexta-feira, 2 de abril de 2010

Estria de Vento

os missionários faziam uma capela com pedras
mas elas iam rolando e nenhuma delas encaixava,
nem nenhum deles reparava enquanto prosseguia
o trabalho, pois andavam iluminados apenas por
uma vela.

eu caminhava todo o dia, e ao lado da capela
havia uma mina, onde o Camprão escavava ouro,
e sempre que passava, ele me perguntava ademais
que raio eu estava ali a fazer. o sol brilha lá em cima
e ilumina-nos a todos, mas há poucos que são plantas
calmas, o resto de nós são praticamente todos animais.

o monte Kilimanjaro estava branco e alguém queria
que se dissesse alguma coisa sobre o assunto ao chefe da tribo,
que funcionava como um delegado com um carimbo,
assinando sobre algo outra coisa qualquer, com poder ou histeria.
um dos missionários estava voltado para a parede, com os dentes
no chão, esperando uma reencarnação, e eu olhava a porta
que ela deixara aberta, e pela estria passava uma brisa que me fechava
os olhos e arruinava qualquer edificação da alma.

Deus não quis acreditar, nem sequer assumiu a tinta negra
nos meus olhos como uma desova por antecipação,
e não quis creditar o cabelo que enchi com creme de açafrão,
não aceitou a desolação nem me levou para o seu reinado.
uns passos longe do poço, caiu como um tordo um monstro,
lento e variado, que nos era tão esperado como a morte.

Paulo Oliveira

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